Los psicodramas nuestros de cada día : Verdades que (N)os sustentan, incertezas que (N)os asombran” >> SEGUNDA ETAPA: OS TEXTOS
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Primeiro texto: «O que não se diz no Psicodrama», por Milene De Stefano Féo
Partindo do pressuposto de que algo não é dito no Psicodrama, pergunto-me pela causa desse não dizer. O que impediria que uma pessoa ou grupo refletisse sobre algum tema específico de sua área de atuação e/ou o divulgasse? Três respostas me ocorrem: a) o tema evitado é conhecido da maioria, mas abordá-lo exigiria muita ousadia e coragem; b) o fenômeno sobre o qual não se fala, interfere no grupo e pode provocar sensações corporais, fantasias, ou desencadear idéias rudimentares, preconcebidas, mas, ainda assim, não é possível observá-lo, experimentá-lo e pensá-lo em profundidade; c) o não-dito é observado, pensado e experimentado, idéias. Convido os presentes a pensar um pouco em cada uma dessas possibilidades.
Ao refletir sobre o não-dito no Psicodrama, ocorreu-me um conto de Andersen, «A roupa nova do Rei». É a história de um monarca vaidoso, que gastava fortunas com roupas novas apenas para exibi-las ao povo. Certo dia, chegaram ao reino dois trapaceiros, que se apresentaram como tecelões, alegando que as roupas tecidas por eles tinham uma qualidade especial: eram invisíveis aos olhos dos irremediavelmente estúpidos e dos incapazes de exercer a função que exerciam. A notícia se espalhou e eles foram contratados pelo Rei. Os forasteiros, então, passavam horas fingindo trabalhar, mas tinham as mãos e os teares vazios; requisitaram as sedas mais finas e o ouro mais precioso, que logo escondiam em suas bagagens. Quando o Rei foi conhecer suas novas vestes, percebeu, estupefato, que nada via, mas perguntou-se: «Serei eu um estúpido ou será que não sirvo para Rei?». Antes mesmo que alguém notasse sua decepção, declarou em voz alta estar satisfeito com aquela bela roupa. Prontamente, «vestiu-a», não antes de despir-se, é claro. Os camareiros o acompanharam em seu passeio, «segurando» a longa cauda, mãos no ar. Dentre o povo, ninguém dava a entender que não via nada; não querendo passar por incompetente ou por muito estúpido, todos exclamavam: «Como é linda a nova roupa do Rei!». Até que uma criança gritou: «O Rei está nu!». Depois de alguma hesitação, todos a acompanharam: «Ele não tem roupa nenhuma!». O Rei, então, ciente de que fôra enganado, e de que o engano agora era público, mesmo assim manteve a «pose» e solenemente voltou ao castelo, acompanhado dos camareiros, que continuavam a segurar o manto inexistente.
Inspirados nesse conto, poderíamos indagar se o não-dito no psicodrama refere-se a verdades defendidas pelos «reis» do movimento psicodramático, verdades que não passariam de grandes equívocos, expressão da ingenuidade reinante. Teriam esses reis «comprado» idéias, crenças, valores e/ou posturas vazios de sentido, acreditando ter adquirido verdades preciosas?
No movimento psicodramático, há reis e rainhas, no sentido metafórico: a existência de líderes é inerente aos agrupamentos humanos. Pessoas, muitas vezes de reconhecido esforço, sensibilidade, sabedoria e carisma, tornam-se líderes, formais ou informais, e, querendo ou não, exercem influência significativa na construção do saber e nos caminhos e descaminhos de movimentos como o nosso. É inerente, também, ao ser humano em geral, o temor de ir contra as verdades defendidas por profissionais unanimemente reconhecidos como «inatacáveis». A possibilidade de um profissional ser tachado de estúpido ou incompetente, caso questione verdades que fundamentam determinada teoria, deve ser avaliada em sua ambivalência. Digamos que esse profissional exista e questione nossas verdades fundamentais. O edifício todo ruiria? Ou ele, e só ele, sofreria as conseqüências da ousadia, sendo sumariamente considerado estúpido ou incompetente? Entre os dois, «seu coração balança». E o nosso «coração»?
Imaginem se alguém da platéia, ou um dos expositores, revelasse aqui, hoje, uma verdade que de fato abalasse os pressupostos básicos que ancoram nossa identidade de psicodramatistas; imaginem se alguém provasse que psicodramatizar é profundamente insalubre, tanto para o diretor de psicodrama como para o ego auxiliar, para o protagonista e para o público. Confrontados – vamos admiti-lo – com algum argumento brilhante, nesse sentido, todos nós veríamos passar diante dos olhos, num segundo, múltiplas cenas profissionais, e em todas elas uma dolorosa constatação: tudo o que fizemos, escrevemos ou dissemos, até hoje, como psicodramatistas, não passou de um grande equívoco. Ao longo de anos, estávamos nus, acreditando que estivéssemos vestidos com as mais belas e ricas roupas.
Num átimo, perderíamos todas as nossas mais preciosas convicções. Mergulhados nesse pesadelo, pergunto a vocês se, tal como o Rei do conto de Andersen, não seríamos tentados a manter a «pose», continuando a transitar por aí como se estivéssemos vestidos – enquanto tivéssemos quem nos endossasse a fantasia, como os camareiros do Rei, ou até que encontrássemos novas roupas que de fato nos vestissem. Galileu foi ameaçado de morte se continuasse a proclamar que o sol não girava em torno da terra. E se calou. Nós, aqui presentes, diante do hipotético revelador da nossa nudez, não ficaríamos tentados a mandá-lo à forca? Já imaginaram como seria difícil retomar nossa prática profissional, na segunda feira, sem saber o que fazer com nossos clientes?
Para se manter no paraíso, Adão e Eva deveriam evitar o fruto proibido e não deveriam questionar as determinações de Deus. Haveria, no universo psicodramático, algum fruto proibido que, caso experimentado, resultasse para todos nós na perda do paraíso?
Quem diria, o patinho feio virou cisne!
Dando continuidade a estas reflexões, sugiro que pensemos agora em outro conto de Andersen, «O patinho feio». Um pequeno cisne perdido, ao sair da casca do ovo, encontra um grupo de lindos patinhos e passa a segui-los como se fosse um deles. Diante da diferença – um, e apenas um, diferente dos demais -, todos o consideravam muito feio. Mas todos, um dia, perplexos, se dão conta de que, ao crescer, o patinho feio transformou-se num lindo cisne. Como entender o equívoco? Podemos pensar, simplesmente, que nem o pequeno cisne nem os patinhos eram capazes de distinguir entre um bebê-pato e um bebê-cisne, e atribuíram à diferença um qualificativo estético: o que é diferente da maioria é feio. Os patinhos não poderiam levar em conta as diferenças entre patos e cisnes, pois desconheciam a existência destes últimos; o pequeno cisne, por sua vez, incorreu no mesmo erro, pois não se conhecia como tal, e aceitou como modelo absoluto o consenso da «irmandade» à qual se integrara. Só depois de viverem a experiência é que foi possível, a todos, avaliar adequadamente a situação.
Podemos admitir que algo semelhante ocorre com alguns temas não abordados em determinados grupos. Na pré-história, por exemplo, não seria possível falar em sexualidade articulada com procriação; chuva relacionada à evaporação das águas dos rios; sementes de frutos e plantações e tantos outros eventos da natureza, que a humanidade levou milênios para compreender. Muitos fenômenos existem, circulam e influenciam nossas vidas e nem sempre podemos identificá-los com lucidez, ainda que apenas para iniciar um diálogo em torno do assunto. Muito do que não se diz espelha tão somente nossa incapacidade de alcançar todas as verdades contidas no universo. O que podemos depreender disso? Talvez devamos dedicar atenção especial a tudo o que nos incomoda, que nos parece esquisito, inusitado, singular. Se evitarmos a precipitação dos juízos de valor, quem sabe estaremos colaborando para não atrasar o avanço de nossos conhecimentos, além de cometer menos injustiças, de que poderíamos nos envergonhar no futuro.
Por que alguém seria tão cético a respeito da possibilidade de dar sua contribuição genuína para o aprofundamento teórico-técnico do psicodrama, a ponto de não divulgar suas reflexões e descobertas? Muitas são as possíveis respostas a essa pergunta. Na seqüência, escolherei um caminho para essa reflexão, utilizando agora como instrumento o enredo do filme Boxing Helena (Encaixotando Helena, 1993), de Jennifer Lynch, em que um médico-cirurgião se apaixona por uma mulher de nome Helena. Certo dia consegue atraí-la, à revelia dela, até sua casa. Lá chegando, ela é acidentalmente atropelada. Helena acorda com as duas pernas amputadas, prisioneira de seu obcecado admirador. A história evolui de forma macabra, promovendo no mais frio espectador intensa indignação: em dado momento, Helena já não tem, também, os dois braços. Uma linda mulher é transformada em aberração humana, tornando-se completamente dependente do homem que a mutilou. A riqueza da trama se revela quando Helena transita do ódio ao encantamento e daí ao desejo por esse homem que a ama de forma tão primitiva. Ao serem descobertos por um antigo namorado de Helena, este ameaça matar ou, ao menos, denunciar o malfeitor. Helena suplica que os deixem em paz, livres para o mergulho total nesse «amor», que a meu ver simboliza e amplifica uma forma de relacionamento muito comum entre pessoas de aparente normalidade.
Quantas não são as condutas de pais, mestres ou psicoterapeutas que denunciam o desejo de manter filhos, alunos ou pacientes em total dependência, psiquicamente mutilados em sua real capacidade de se tornar seres autônomos e criativos! De outro lado, não é raro que pacientes, alunos ou filhos se mostrem ansiosos por encontrar alguém que lhes «encaixote» as potencialidades, a fim de que se mantenham eternos «bebês», dependentes de seres idealizados, cujo olhar cheio de brilho viria a ser sua propriedade exclusiva. O que temos aí é complementação patológica em perfeita harmonia, desvendando certo aspecto obscuro do psiquismo humano.
Penso que a criadora desse inquietante Encaixotando Helena, Jennifer Lynch (aliás, filha de David Lynch, diretor de Veludo azul e O homem elefante, entre outros filmes), nos convida a refletir se o não-dito no psicodrama por vezes não revela aspectos de nosso obscuro desejo de manter «encaixotadas» nossas potencialidades e conquistas adultas. Talvez estejamos transformando em alucinação as impotências que justificam a crença segundo a qual a construção do saber psicodramático deve manter-se sob a exclusiva responsabilidade de uns poucos, eleitos para ser, quem sabe, eternamente idealizados por todos nós. Seria esse um caminho plausível para pensar o não-dito no psicodrama?
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Relendo meu próprio texto, sinto um certo desconforto. Imagino um ouvinte ou leitor, indignado, sugerindo que eu estou a dizer que todos nós, psicodramatistas: a) estamos «nus», que o edifício psicodramático não tem sustentação teórica mínima; b) temos a tendência a conduzir à forca ou ao ostracismo todo aquele profissional que se mostrar muito diferente de nós; c) resistimos a aceitar nosso processo natural de maturação psicológica, tendendo a aprisionar nossos potenciais para nos tornarmos verdadeiramente adultos, criativos e críticos, «garantindo» assim um viver tranqüilo sob «as asas» de figuras que escolhemos idealizar. A esse «ouvinte» imaginado dedico a conclusão desse texto.
Contos infantis, em geral, têm sua trama ancorada no maniqueísmo: o bem e o mal, o feio e o bonito, a verdade e a mentira… A criança mantém-se atraída por tais enredos, possivelmente, porque eles retratam a sua forma, ainda primitiva, de compreender os fatos da vida. Sua mãe, por exemplo, ora é bruxa, ora é fada, e ela, alterna a compreensão de si mesma como a mais linda do mundo e a mais feia, a mais inteligente e a mais obtusa, a mais boazinha e a mais malvada e destrutiva. Não é possível o meio termo para o mundo psíquico infantil. Ou o rei esta nu, ou esta vestido.
Penso que a criança que fomos um dia mantém sua existência dentro de todos nós, mesmo que de forma inconsciente, sejamos psicodramatistas, psicanalistas, behavioristas ou leigos. Suportar viver com verdades parciais não é fácil. Quem de nós não traz dentro de si o desejo nostálgico de encontrar a verdade definitiva sobre todas as coisas.
O ramo das ciências humanísticas nos coloca diante da incerteza, momento a momento, por vezes de forma insuportável. Penso ser natural ficarmos seduzidos a alimentar dogmas para «navegarmos» nessa área com um pouco menos de angústia. Por isso me pergunto: Serão nossas «crianças internas» as responsáveis, em parte, pelo não-dito, não só no psicodrama, mas nas sessões que dirigimos ou nas cenas de nosso cotidiano que vivemos? Estarão elas a desviar nossa atenção, nossa intuição e nossa inteligência de algum aspecto, seja do do edifício psicodramático, seja de nossas crenças pessoais por temermos que eles se desintegrem, não sobrando pedra sobre pedra? Poderíamos suportar ver o joelho nu do rei sem com isso sermos tomados pelo pânico de que, certamente, o rei esta completamente nu?
Quantos não são nossos clientes que resistem a contemplar aspectos negativos de seus casamentos, de sua vida profissional, de seus valores, temendo que ao se darem conta de seu parcial descontentamento, tudo ruirá? E quantos ainda, ao se darem conta de que as coisas não vão bem, partem para a ruptura drástica por não suportarem conviver com situações não idealizadas? E nós, seremos feitos de outro material?
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Entendo existirem duas categorias dentro do que não se diz: uma diz respeito à inadequação do dizer, sobre um fato conhecido – por razões estratégicas, de bom senso ou por boa educação; outra é determinada pelo desconhecimento do fato, sobre o qual, portanto, a pessoa não terá (melhor: não saberá) o que dizer. Penso ser muito difícil localizar algum tema, no psicodrama conhecido por todos, sobre o qual se considerasse inadequado dizer algo. São muitas as formas de ser psicodramatista nos dias de hoje e os representantes das diversas concepções expressam suas diferenças, sem constrangimento, já faz muito tempo. Mesmo quando me refiro ao conto «O Rei esta nu», me interessa a eventual resistência intrapsíquica em examinar verdades estabelecidas, não por temor ao «Rei», mas sim por ser próprio de todos nós, humanos, evitar crises que abalem os alicerces de nossas crenças pessoais.
As reflexões que desenvolvi nesse texto referem-se àquelas tendências humanas cujas fantasias correspondentes costumam manter-se inconscientes em muitos momentos de nossas vidas, dificultando a realização de nosso potencial em tornarmo-nos adultos autônomos e criativos. Servindo-me de algumas metáforas, procurei colocar tais tendências em evidência para que pudéssemos pensar um pouco sobre elas, na tentativa de aprofundar nosso entendimento sobre uma certa atração das pessoas, em geral, em cultuar «conservas culturais», conforme nos assinalou J. L. Moreno.
Espero ter apresentado caminhos plausíveis e frutíferos para pensarmos o não-dito, seja nas sessões de psicodrama que participamos, seja no movimento psicodramático.
Segundo texto: «E ele dorme…», por Cecília Gross
Ele chega, entra na sala. Não me olha, boceja. Fica espreguiçando-se numa atitude absolutamente agressiva (ou sou eu que me sinto agredida?), deita-se no sofá, e se preppara como se fosse adormecer. Eu digo: – Parece que você está com sono… Ele responde: – É…
Não falo o que estou sentindo, agressão, pois não tenho certeza, mas é verdade que ele age com total desdém por minha pessoa. A história do meu paciente é uma história de muitas perdas. Ele tem 12 anos de idade, é filho adotivo. Mudou-se de país por duas vezes. Veio de outro país, com o diagnóstico de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Ele vai mal na escola, não consegue parar quieto ou se concentrar. Só consegue se concentrar no computador e adora a Internet, onde consegue se comunicar. Não tem boa socialização, o relacionamento familiar não é próximo. Segundo os seus pais não suporta frustrações e, quando contrariado, reage com muita violência inclusive agredindo-os fisicamente. Quando morava em outro país, ignorava os amigos e valorizava os amigos do Brasil. Agora, no Brasil, faz o contrário, ou seja, está sempre evitando vínculos afetivos.
É verdade que o meu paciente tem dificuldades de vinculação, mas com toda a minha história em eterno processo de resolução, penso no quanto me sinto mal e não consigo digerir que o amor demore tanto a chegar , da vontade de desistir , como desistem seus pais e amigos…
Resolvo acreditar no que sei ser verdade, e invisto nela, ou seja, ajo para que ele sinta que eu posso conter toda a sua paúra e desconfiança. Ofereço-lhe o preparar o sofá para que ele durma mais confortavelmente ele recusa , mas eu continuo preparando a almofada, a coberta , como se fosse um berço. Ele se aconchega e dorme… Dorme profundamente, ronca, baba…
Eu fico velando-o na sua ausência. Ausência? ou presença perturbadora? Acaba o tempo da sessão. Eu o acordo, ele levanta, me dá um beijo, e vai embora. É verdade, ele confiou em mim para dormir tranqüilamente perto, mas , é verdade também que ele não consegue fazer de outra maneira… Fico na incerteza se estou sendo honesta em deixá-lo dormir…
Afinal o que estamos trabalhando? Após 3 meses dormindo todas as sessões, ele falava algo sobre sua família, geralmente sobre algum presente que ia ganhar, e dormia novamente.
Um dia resolvo perguntar se não quer me contar mais alguma coisa. Ele me olha e diz: – Não gosto de falar nada, de conversar, pois não confio em ninguém. Digo-lhe que é no mínimo estranho ele se deixar ficar tão vulnerável, dormindo, diante de alguém em quem não confia… Ou será que era um treino para confiar? Ele dorme em seguida.
Mais dois meses sem grandes mudanças, até que um dia ele conta que foi contrariado pelo pai, mas que gritou com ele, e o pai retrocedeu. Ao que respondi: – Teu pai não te banca, não é? Ele adormece imediatamente como se tivesse levado um golpe violento… Após esta sessão o seu sono não me perturbava tanto, talvez porque percebi que para ele estar em contato com o outro era de grande sofrimento.
Após um mês ele começa a ficar acordado, se mostra mais alegre, começa a participar mais do tratamento, comunica-me quanto está se sentindo melhor, demonstra carinho, participa da sua medicação, medicação esta que ele já vinha tomando no outro país e só houve ajuste de dose. Começa a falar de sua adoção, suas origens. Arrisca-se a se aproximar de quem ama, enfim; seu processo terapêutico passa para outro patamar.
Depois de muita elaboração e supervisão, chego à conclusão de que enquanto o meu paciente dormia eu ficava elaborando por ele todo o simbólico dessa situação. A cada vez que o acordava e continuava viva e inteira, ele ia tendo a oportunidade de confiar na presença e constância do objeto. Essa elaboração, ele nunca teve a oportunidade de fazer na vida, até porque na sua história todos os seus objetos amados eram perdidos. Ele resolvia seu conflito mandando os seus amores embora e ficava observando e torcendo para que eles voltassem, mas eles não voltavam.
Sua terapeuta volta, a cada vez que ele acorda. Lá está ela, inteira… Com todas as incertezas, dogmas não cumpridos e inseguranças, resolvi apostar na verdade que o meu paciente me ofereceu, verdade dele e minha (na medida em que também tenho medo de não ser amada). A sustentação desta verdade , abriu todo um continente para que ele coubesse dentro de mim, e talvez cabendo dentro de mim sentiu que poderia caber em um outro. Sua química foi auxiliada com a medicação, (agora ele tem uma escolaridade razoável), medicação esta que ele já não toma mais. Hoje ele confia mais nos vínculos que faz na vida…
Ah! Psicodramas nossos de cada dia , verdades que me sustentam e vão me dando chão para suportar incertezas que me assustam e me fazem crescer.
Terceiro texto: Interrogandonos sobre nuestros quehaceres y saber», por Ana María Rothman
En los diferentes devenires de lo grupal nos encontramos , en los ochenta, con que la multiplicación dramática es una de las maneras en que lo grupal se despliega como obra abierta y nos permite pensar la producción como multiplicidades, entrecruzamientos y atravesamientos de las novelas singulares e histórico-sociales.
Caídos los dogmas y las certezas universales y unificadoras, inmersos en la incertidumbre cabe preguntarnos: ¿Cuánta diversidad soportamos, cuánto caos, cuánta heterogeneidad? ¿Cuáles son los efectos, en la producción de subjetividad y en la salud mental, de la globalización, el «nuevo Orden «mundial, la informatización, la macdonalización de la cultura, el reinado de la ley de mercado, la flexibilización laboral, la exclusión social, lacorrupción, la violencia…? ¿En qué medida la competitividad, el individualismo, el aislamiento,la desconfianza, el sometimiento, las vivencias de soledad, vacío,pánico, vulnerabilidad, las búsquedas de fundamentalismos, dogmatismos y nuevos gurues, atraviesan también nuestras prácticas, grupos e instituciones? ¿Cómo no quedar capturados en la historia trágica, en la encerrona de los recuerdos melancólicos? ¿Cómo resonar para no contarnos siempre la misma historia? ¿En qué medida la heterogénesis, en tanto génesis del devenir,devenir que es siempre devenir- otro, se constituye en condición problemática en la producción de subjetividad? ¿Cómo se aprende, se cura, se transforma? ¿Cómo abordar el pensamiento complejo, transdisciplinario, basado en nuevos paradigmas que conjugan azar y necesidad, sistemas abiertos e inestables, modelos en red, para comprender el desafío creativo de la diversidad, el caos, la transformación? ¿Cómo transfundirnos y nutrirnos de la vida cotidiana, la clínica, el imaginario social, la noticia periodística, la literatura ficcional y científica, el cine, el teatro, la pintura, la música, la escultura…? ¿Cómo crear un espacio tiempo, una posibilidad de demorarnos, experimentar, atravesar el caos, la confusión y pensar, con otros, focos de captura y líneas de fuga? ¿Cómo compartir la experiencia de soledad, del equilibrista en la cuerda floja e ir tramando una red que permita aflojarse, aprender a caer, rebotar y poder acompañar a otros en sus caídas? ¿Cómo ir gestando grupalmente formas, movimientos, imágenes, escenas, que vayan dando cuenta de los ritmos, intensidades y vértigos que nos afectan? ¿Qué lugar ocupan las técnicas de acción, corporales, gestálticas, el teatro espontáneo, el psicodrama, la multiplicación dramática -los multirrecursos – en los grupos terapeúticos y en los grupos de formación? ¿Cuáles son sus especificidades y diferencias en relación al lugar de la coordinación, de la transferencia, de la demanda, de la regresión? ¿En qué medida, en sintonía con las sucesivas crisis sociales, agudizadas por la violencia, el ajuste, la corrupción y la impunidad se manifiesta en los grupos un aumento de la necesidad de dramatizar y simultáneamente resistencias al trabajo dramático?
Quarto texto: «Intervalo en el trabajo cotidiano», por María Lozano
Intervalo en el trabajo cotidiano. Un café en mi lugar habitual que me rescata del consultorio. Sentada en la barra, una escena aparentemente banal me convoca. En continuo movimiento, la camarera dialoga con una clienta.
Camarera: – ¿Qué te parece la idea?
Clienta: – Claramente, ¿qué es lo que querés?; ¿un taller?, ¿un encuentro con gente?, ¿un…?
Camarera (enfáticamente): – Un grupo. No sé, de amigos… de conocidos… que nos veamos una vez por semana y hablemos, reflexionemos de algo. No sé… (señala el ventilador), pensar porqué el ventilador gira para la derecha y no para la izquierda.
Clienta la mira azorada y me mira sonriendo como testigo de semejante ocurrencia… Terminando de saborear mi café pensé: – «Todavía estamos vivos!» ¿Podemos vivir sin contarnos historias?. El hombre ha ido generando históricamente múltiples recursos; es un narrador nato; «había una vez…». Hasta el momento es una certeza, para mí, pensar el psicodrama desde la filosofía, la ciencia, el arte y lo social y…y…y…. Me encuentro diciendo certeza y recuerdo que Moreno nos hablaba de las conservas culturales…
Me pregunto: ¿Hay certezas e incertidumbres en psicodrama? O ¿son momentos, estados atravesados por circunstancias y accidentes que van configurando una cartografía en el acontecer, intensidades hoy con destino efímero? ¿Acaso no es esto el psicodrama? ¿Un instante dado por la escena que alcanza una intensidad en lo vivencial y en lo estético que impregna y que se esfuma como un sueño luego de ser soñado?
Así como el relato del sueño no alcanza a dar cuenta de las imágenes y sensaciones vividas, el climax de la escena no puede reproducirse. Escena dramática que da lugar a múltiples resonancias que atraviesan a protagonistas, público, director. ¿En qué medida la multiplicación dramática, que acoge a estas escenas resonantes, da cuenta del continuo transfundirse entre el espacio escénico y el público? Evoco momentos del particular estado de la dirección en que la captura se me hace presente. Quedo en parte suspendida y tomo impulso para seguir acompañando ese acto creativo que posteriormente irá tomando sentidos más claros. La multiplicación vuelve a focalizar la captura dando la posibilidad de la lectura. ¿En qué momento y de qué maneras nosotros directores «¿logramos?» descapturarnos? En esta época donde priman las sintomatologías corporales: anorexia, bulimia, panic syndrome…y abunda el exhibicionismo ¿ cuáles son las formas particulares que adopta la resistencia a dramatizar, donde queda comprometido en especial el cuerpo y la mirada? ¿Qué pasa con el psicodrama hoy en la Argentina, en nuestras realidades? ¿Es sólo para terapeutas? ¿Nosotros como terapeutas podemos bancarnos la psicotragedia que circula hoy en las escenas que rondan los consultorios, las instituciones, la realidad presente, sin producir una mirada estética de lo siniestro?
Quinto texto: «El grupo de Psicodrama Didáctico», por Raul Sintes
El grupo de psicodrama didáctico se reunía los miércoles, a la mañana, desde hacía 2 años. Nos habíamos mudado, la institución estaba viviendo cambios profundos, de crecimiento. Se había insistido en una asamblea en la necesidad de aunar los esfuerzos, teníamos que trabajar en grupo, solidariamente.
Estaba claro que sólo seguiríamos creciendo si lográbamos hacerlo juntos. Mientras esperaba al grupo veía deslizarse, por la ventana, a cientos de sombras todas iguales. Iban de traje y maletín, casi corriendo, a la cita con la computadora. Sueños de Wall Street en una calle cualquiera de la Ciudad Vieja de una ciudad sudamericana. Sueños de soledad, de mensajes cifrados, de cifras y de saludos sin encuentro, sueños de millones de dólares que nadie sabe quién los tiene, pero que es posible, sólo hay que levantarse temprano, agarrar el maletín y correr, solo, solo.
El grupo trabajó un mito: el arca de Noé. Noé hizo «conforme a todo lo que le mandó Jehová. De los animales limpios, y de los animales que no eran limpios, y de las aves, y de todo lo que anda arrastrando sobre la tierra, de dos en dos entraron en el arca: macho y hembra, como mandó Dios a Noé». El grupo entiende que se tiene que salvar la casta sobre la tierra de la Institución.. Son los encargados de meter en el arca a los que se salvarán del diluvio. Tienen que estar todos, pero ser distintos, sólo una pareja de cada especie. No podrán hablar, no tienen el mismo idioma, pertenecen a especies diferentes, pero se podrán salvar si permanecen en silencio bajo el mando de un Elegido, alguien superior, un líder, que los mantenga en el arca, solos, separados, mientras dura el diluvio.
Se me ocurrió sentir que no habría un elegido, que no tendríamos más remedio que aprender a manejar todos el arca y lo dije. Una de las integrantes del grupo dramatizó que era una mulita (un armadillo) y sintió que, por suerte, tenía una gruesa caparazón y podía esconder la cabeza. Otra fue águila y pudo volar mas alto que las palomas y no tuvo necesidad de llevar ninguna rama de olivo en el pico, pero se sintió sola. Hubo otras dos que no pudieron ser nada, no sintieron nada, estaban apuradas por llegar a sus empleos.
Esa misma mañana el grupo decidió disolverse y no seguir trabajando más.